Quando ainda adolescente no interior de Minas, mais precisamente na cidade de Patos de Minas onde nasci, tive o privilégio de conhecer Chico Buarque.
O mito naquela epóca me decepcionou bastante quando descobri que era gente de carne e osso, desceu do avião tomando uísque no bico da garrafa e usava uma meia vermelha furada no dedão
combinando com a cueca da mesma cor.
Eu e alguns amigos encarregados de apanhá-lo no aeroporto para um show durante a famosa "Festa do Milho" tivemos que carregá-lo literalmente para o hotel, ajudar seu agente a tirar sua roupa e deitá-lo na cama, tal era seu estado de embriaguês.
Chico devia ter no máximo uns 25 anos de idade e já tinha composto "A Banda".
Quando ele apareceu no palco montado no estádio da URT, de blusa vermelha de gola "roulê" e uma calça branca, violão e banquinho, banho tomado os cabelos encaracolados ainda úmidos, o público ululou de alegria e eu mal acreditei que aquele era o cara que eu havia deixado a menos de 4 horas escornado no quarto do Roza Hotel.
Mais surpreso fiquei quando ele começou a cantar uma música completamente desconhecida do público cuja letra eu jamais esquecerei.
"Um marinheiro me contou que a boa brisa lhe soprou que vem aí bom tempo...
Um pescador me avisou que um passarinho lhe contou que vem aí bom tempo...
Dou duro toda semana senão pergunte a Joana que não me deixa mentir.
Mas finalmente é domingo naturalmente me vingo e vou me espalhar por aí...
No compasso do samba eu disfarço o cansaço, Joana debaixo do braço carregadinha de amor...
Pelo alto o sol quente me leva pro salto pro lado contrário do asfalto pro lado contrário da dor.
Vou!!!
Satisfeito, alegria batendo no peito radinho contando direito a vitória do meu tricolor"
A música? "Bom Tempo" gravada em seguida por Elis Regina foi lançada em Patos de Minas...
Esta história me veio à lembrança quando começei a escutar o novo CD do Chico, "Carioca".
Nascido no Rio, Chico passou sua infância toda em São Paulo onde ganhou o apelido de carioca.
O CD tem tudo a ver com o Rio de Janeiro de hoje.
Sua canção "Subúrbio" desloca nossa atenção para as costas das montanhas, onde o drama social parece condenado ao esquecimento e ao silêncio. É como se a própria miséria tivesse também a sua periferia...
Vale à pena pelas letras, pela música e, principalmente pelo velho Chico de tantas fantasias!!

2 comentários:
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